28 abril 2018

O Linguarudo




Conta a lenda que  o Imã Rarabishuerba era juiz sábio e  renomado na fantástica terra da Uberlíndia… . Devo confessar a vocês que sempre que leio ou que alguém fala Uberlíndia não faço a menor ideia de onde fica. Mas isso não vem ao caso. Fato é que o Imã não perdia uma causa sequer com julgamentos históricos. Certa vez condenou um camelo a pagar multa diária de 1.000.00 de dólares cada vez que ficasse parado obstruindo as calçadas da capital a cidade de Isoilin Ibn Sharmuta.

Mas daquela vez o caso estava difícil, não conseguia meter na cadeia o Cidadão Sin Saladin acusado de haver comido a própria língua.
Há cinco anos tentava provar que a língua havia sido devorada pelo próprio acompanhado de homus tarrine, coalhada seca  e zatar. Mas não conseguia provas. Sin Saladin continuava a falar como se sua língua continuasse a existir.
Os interrogatórios se sucediam:

- O sr comeu a própria língua.
-Não sr se tivesse comido não estaria falando.
- É um truque o sr pode estar falando pelos cotovelos. Pelo que consta nos autos  O sr não tem língua.
- Tenho sim, veja, e Sin Saladin botou pra fora quase trinta centímetros de língua.
Rarabishuerba ficou indignado
- O sr está debochando deste tribunal, está mostrando a língua fazendo careta para a minha majestade. O que me consta é que o sr não tem língua logo ao mostra-la passa a ser acusado também de falsidade ideológica e desacato à autoridade.
-  O sr disse que eu não tinha língua e quis lhe mostrar.
_ O sr não tem língua, posso vê-la, mas sei que não tem. Tenho três testemunhas, que depois de dois anos de tortura na solitária, deixamos eles com língua para confessaram de viva voz  que viram o sr mastigando a própria língua durante a exposição de Aranhas Cabeludas no Museu Bahamas.
-Não era minha língua, eu estava mascando balas Juquinha, e não foi no Museu Bahamas, foi numa visita à Sagrada Gruta Molhada.
-  Não vem ao caso. A literatura jurídica dá outro nome à Gruta Molhada.
- Por acaso seria...xibiu?

Dito isto o réu sorriu e pôde-se ver sua indecente língua.
Rarabishuerba estava desesperado, precisava de todo jeito meter aquele linguarudo na cadeia.  Cinco anos tentando provar que o reu havia comido a própria língua, nestes cinco anos conhecera tudo sobre línguas: língua ao molho madeira, língua falada, língua escrita, língua morta, língua pátria, língua estrangeira, beijo de língua, beijo técnico, língua de vaca, língua da sogra, chocolate língua de gato, e até cunilíngua, mas a língua de Sin Saladin continuava ali.

Não havia outro jeito. Ele era o Santo Inquisidor e nunca havia perdido um caso. Proferiu a sentença: Sin Saladin, comeu a própria língua com grão de bico no Restaurante Acepipes das Arábias, condeno o réu à pena máxima, não tenho provas, mas tenho convicção.
Dito isso limpou a própria baba raivosa que escorria de sua boca usando a sua própria língua.
O réu foi para a cadeia, mas para desespero de Rarabishuerba a língua de Sin Saladin tornou-se a língua do povo.

Assim conta a lenda...







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