25 abril 2018

Coisas de Pobre





Depois que o País foi jogado de vez na incerteza e na barbárie, e que a cadela do fascismo está mais assanhada e protegida que nunca, só resta a este cronista esquecer o que outrora foi uma Nação e hoje apenas um ajuntamento de pessoas, e falar de coisas amenas, ou a menos sobre as pessoas que compõe este pedaço de terra.

Dois fatos desta semana marcaram minha fala de hoje, e que eu reputo como Coisas de pobre. O primeiro por ser afeto a pobre mesmo, o segundo por ser de pobre mentalidade.

Vamos ao primeiro: Dona Maria, manicure, adquiriu um imóvel popular por contrato de gaveta. A construtora cobrou-lhe uma dívida antiga à razão de dois mil reais por mês. Ela disse que ganhava 1.300,00 reais e não podia pagar assim. Procurou o Conselho de Direitos Humanos e entrou com um processo: pobre, mas honrada queria pagar, mas um montante compatível com sua renda. Pois o juiz, com muita classe, e confirmando sua classe,  não só indeferiu sua petição alegando que ela não era a verdadeira dona do imóvel – contrato de gaveta – como ainda aplicou-lhe uma multa de 20.000,00. O que torna a sentença contra uma pobre de Cristo senão cruel, ao menos ridícula. Cabe recurso. Que custará mais tempo e dinheiro –  para os não pobres, tempo é dinheiro.

O segundo caso foi o de uma madame que resolveu festejar seu niver numa dos mais chiques restaurantes do Rio. Perguntou se podia levar sua própria torta. A casa assentiu. Pode trazer sua torta sim, disse a atendente com grande simpatia. Mas no final da festa a Casa cobrou cem reais pelo uso da geladeira onde ficou guardada a torta. Mentalidade pobre, tanto da casa em por ganância cobrar pela guarda, quanto da madame por não querer pagar pela torta da Casa, levando a sua própria, o que a torna, pode-se chamar uma marmiteira de luxo.

Cabe recurso na Justiça que dará naturalmente ganho de causa ao mais rico, se a Casa ou a Madame. Mas um recurso que sairá mais caro que se a madame ficar calada e morrer nos cem merréis pelo uso da geladeira de ouro.

Madame, como a manicure pode recorrer ao Conselho dos Direitos Humanos declarando que ela, que depois de tantas plásticas tem a cara mais torta que a própria torta, tem o direito humano de comer a torta dela, com sua boca torta, em qualquer lugar sem pagar por isso.
Sei que são dois motes diferentes, mas com certeza justificam o título: coisas de pobre.
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